sábado, 31 de dezembro de 2011

Frio



Eu achei que tinha perdido meu coração.
Achei que o vento o tinha levado, junto de minhas dores,
o que o tempo e os amores plantam em nós.
Me estagnei em mim mesma por um tempo,
como se o meu corpo estivesse congelado
para que minha alma pudesse ter um tempo de reflexão, de descanso.
Para que nenhum fato exterior viesse cutucar aqueles momentos de auto-conhecimento.

No entanto, passou do ponto;
o tempo me atropelou e eu não pude mais enxergar...
Meu coração, pouco a pouco, foi mesmo congelando,
Sem que eu percebesse, sem que eu pudesse remediar.
Foi tomando cada parte de mim, cada membro;
Todos congelados, estarrecidos e mudos.

Em pequenos passos, me perdi em mim mesma.
Não consegui mais segurar a ponta da corda para me salvar,
e fui, desperdiçando cada pedaço de mim...
Fui, sem volta
e sem fim.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Jaula de concreto



Às vezes eu tenho a impressão de que a cidade é uma grande jaula de concreto. Uma jaula enorme, com muitos caminhos e estradas, mas sem saída alguma. Cheia de pessoas cercadas por si mesmas e por suas invenções e construções. Uma jaula recheada com a pretensão dos seres humanos, com a convicção de que nossas criações superam as da natureza. Damos, quase que por caridade, um espacinho para uma árvore ou outra. Olho para todas essas homéricas construções e quero além. Mas não consigo. Esse mar de concreto é tão finito que não consigo me desvencilhar desse emaranhado de buzinas, cimento, luzes, vozes, passos e céu sem estrelas. A cidade é tão finita que faz seu próprio céu; esconde as estrelas com a fumaça que ela mesma criou. É, é uma jaula de concreto e fumaça. Não me leva além, não desperta minha essência. E, se um dia, essa jaula se destruísse, e todas as suas arquiteturas virassem pó, nada daquilo iria se refazer. A cidade não renasce, como a natureza. O tempo a desgasta e ela, então, pode até ser reconstruída, com algum esforço humano. Mas a natureza, em toda sua infinitude, precisa apenas dela própria pra renascer; um tanto de água com outro tanto de Sol. Renasce, eternamente... não se desgasta com o passar do tempo. Ela recria, amplia... Ah... Se eu pudesse achar a saída desse labirinto de concreto e ser livre na imensidão infinita. Ah, se eu pudesse...

domingo, 9 de janeiro de 2011

Janelas da alma




Existem certos momentos na vida em que a realidade pulsa... e pulsa bem na beirada das janelas de nossa alma. A realidade bate, insistente, no vidro. Até o momento em que não aguentamos mais... abrimos as janelas e aquela correnteza gelada de vento, carregada de verdades, nos penetra de uma só vez. Nos gela a alma. Esta fica engasgada. E como doem as realidades... corroem, fazem a alma se desmantelar.
Até que, de tanto martírio, a alma vai se recompondo quase que por obrigação. As verdades começam a ficar costumeiras para nossos olhos e não nos parecem mais tão dolorosas. As soluções, então, passam a dar os primeiros toquinhos: - toc, toc, toc!, no vidro das janelas. E, como uma brisa gostosa de um fim de tarde de verão, as soluções vão entrando refrescantes pela janela... confortando nossa alma.