domingo, 25 de julho de 2010

Os teus olhos que agora são meus




Os olhos mal lubrificados veneravam-te as palavras ardentes que me penetravam. Durante toda a analogia sobre você, meus olhos não podiam piscar para não perder sequer um milésimo de teu gesto, para não esquecer sequer cada centímetro de tua pele que desencadeia tantos artifícios teus. Observei-te com tanto ardor, que meus olhos acabaram por ficar sequíssimos, enrugados, e minha pobre cabeça, no alicerce de seu êxtase, fez-se brandecer junto à imensidão vermelha e pulsante que governa o meu eu. Não importei-me em perder os meus olhos, estarrecidos ao chão, pois, a aquela altura, eu já tinha posse dos teus... a cada fração de segundo em que os olhei, recobri-os nas lembranças deliciosas de tê-los desfrutado; a cada segundo que mantive as redondas janelas de minha alma abertas para que nem por um fragmento de segundo você sumisse, valeu-me para que agora eu tenha você em minha mente, com cada detalhe embasbacado e adocicado de você...

segunda-feira, 12 de julho de 2010

A menina e a Loucura


Breta olhava para aquele teto pálido como se seus olhos o pudessem furar. Os gritos agudos e desesperados durante a noite atrapalhavam seu sono, e os remédios que lhes eram dados para adormecer, se encontravam todos dentro da fronha do travesseiro. Várias noites se passavam e Breta continuava a sonhar no dia em que sairia daquele hospício. Os pais a internaram fazia quase três anos e, dia após dia, ela se sentia enlouquecer mais um pouco. Enquanto os minutos da madrugada custavam a passar, sua mente não podia descansar. Todas as cenas de sua vida passavam dentro de si, e a pobre garota, com seus maus vividos vinte e dois anos, não podia entender o porquê daquilo tudo. Por que era diagnosticada como louca? Diagnosticada, inclusive, por pessoas que estudaram a vida inteira para, um dia, poderem definir quem está ou não em perfeito estado de sanidade. O que Breta não podia compreender era: qual é o estado de sanidade que tanto se cobra? O que é preciso ser para ser considerado normal?
O vento batia forte e grosseiro, quando algumas palavras começaram a salpicar baixas em seu ouvido:
- É que os seres humanos não conseguem se suportar. Não podem conviver uns com os outros se não for sob regras e padrões. Sabe por quê? Porque eles precisam ver que têm algo em comum. Eles precisam seguir a risca todos os padrões já impostos sei lá por quem, e sei lá por quê. Eles precisam que todos se enquadrem nesse manequim de "normalidade"... Se você sair, agora, gritando, simplesmente para aliviar o estresse, Breta, todos vão dizer que está certo você estar aqui, que você é realmente louca. Todos vão fingir que nunca tiveram vontade de sair correndo e gritando, todos vão vestir a máscara da sanidade e agir como se nunca tivessem tido vontade de saírem correndo pelados pela rua, ou agarrar um amor secreto, ou mesmo desligar-se do mundo por um minuto, uma hora ou mesmo um dia, e não falar nada-com-nada, simplesmente para ficar livre desses compromissos que pesam em nossas costas todos os dias em que vivemos nessa merda de mundo padronizado e falso.
Breta olhou e não reconheceu o ser que se postava em sua frente. Calou-se, esperou que as intensas palavras suavizassem um pouco mais no ambiente, e indagou:
- Quem é você? Estou tendo alucinações agora?
- Não está tendo alucinações, Breta. Eu sou a Loucura. Aquela que mora dentro de cada um dessa bosta de planeta, mas que é rejeitada. Sabe, em certa dose, eu sou boa. O problema é que eu não sei mais onde me acomodar. Disseram-me que o certo era eu ficar aqui, e em todas as casas específicas para as pessoas loucas em tratamento. Mas, sabe... eu não concordo. Eu não acho que você seja mais louca que aqueles outros indivíduos que estão lá fora.
- Eu também acho que não. Mas eles dizem tanto que eu sou maluca, que não sei mais a quem recorrer, todos acham que eu não presto para estar lá fora.
- Sabe, Breta... eles acham isso porque você é sincera. E sabe qual é a diferença entre você e eles? É que você não consegue se adaptar aos padrões que eles impõe um ao outro. Você é o que é. Eles agem como se você não tivesse o direito de habitar esse Planeta. Todos vieram parar nele da mesma forma, todos estão presos a ele da mesma forma. Mas cada ser humano é tão diferente um do outro, em cada detalhe, cada impressão digital, cada pulsação e emoção... tão diferentes... por que é, então, que todos ali fora acham que devem agir igual? Para não incomodar um ao outro? Você tem que adaptar-se, a vida toda, apenas para agradar, ou não desagradar ao outro. Sabe o que eu acho sobre isso, Bre?
- O que? - respondeu Breta, quase chorando, com os olhos fixos naquele ser longelíneo e colorido.
- Acho um tremendo egoísmo eles não suportarem o fato de serem tão diferentes um do outro. Quem está louco então, Breta? Quem é que está louco? Aqueles que fogem da própria essência por pura covardia e medo de rejeição...
- ... ou aqueles que não têm medo de mostrar para o mundo o próprio interior? - completaram as duas juntas, abraçando-se e olhando o luar que parecia pendurar-se na janela de vidro.
- E agora, Dona Loucura?
- Agora esperemos que o tempo cure essas pessoas, minha filha. Esperemos que o tempo cure...

sexta-feira, 9 de julho de 2010

TUDO!




Sempre quis escrever algo sobre a maior alegria da minha vida. A minha maior alegria é Beatles. E uma alegria de tal grandiosidade é impossível de explicar. Não é só pelas letras ou pelo instrumental, é por toda a magia, por toda a essência, e por todo o sentimento de amor que me proporciona. Já me perguntaram o por que de toda essa fascinação, pergunta esta que, sinceramente, não faz sentido para a minha cabeça e alma beatlemaníaca, mas respondi: porque eles mudaram a cena musical, porque a genialidade aumentou, gradativamente, de 62 até 70, porque após 70 a carreira solo de cada um deles foi excepcional, porque as letras, apesar de muita gente achar que são bobas, tem muito mais lógica que o nosso humilde raciocínio pode atingir. As letras e poesias não precisam, necessariamente, ser políticas ou revolucionárias, eles me ensinaram que a inocência nos leva para muito além, nos leva para a base, para o essencial, porque a inocência ajuda as pessoas a estarem mais felizes, mais boas e generosas. Eu estou falando do começo da carreira, "Anna", "Chains", "A wanna hold your hand", "A hard days night", "P.S. Ilove you", "Please Mr. Postman", entre tantas outras que já me fizeram chorar por me remeter a um amor puro, uma suavidade pueril. Mas eles não se prenderam apenas a uma fase dessa vida tão inconstante e incompreensível. Eles descreveram, em seus vinis e shows, as questões da vida, todas elas. Em oito anos de formação oficial de Beatles, eles conseguiram atingir todos os temas: a inocência, passaram pela psicodelia, pelo amor e pela dor, pela individualidade e pelo coletivo, pelo mais complexo deste mundo, e pelo menor detalhe, pequeno ou até mesmo invisível. Tudo isso através da música, do talento, e da poesia. Crianças, jovens, adultos, indivíduos da meia-idade e seres já envelhecidos e enrugados pela idade. Eles conseguiram atingir todo esse público por, simplesmente, serem pessoas que tinham o sentimento e o conhecimento de tudo. Eu durmo com "Good night" e acordo com "good day sunshine" e "here comes the sun". Quando penso em rock, lembro de "helter skelter" ou "rock'n'roll music", que não é de autoria deles mas fizeram uma versão com grande esmero. Eles me acompanham quando estou feliz, triste, louca (como estou agora), tensa, brava, sensível, amando, odiando, escrevendo, pensando, sentindo e vivendo. E a "grande sacada", é que quando os ouço e estou na "bad trip", eles são os únicos a me fazerem a pessoa mais feliz do mundo, por me ensinarem que a vida pode ter coisas chatas, mas que elas podem ser superadas, porque podemos tudo. Sim, podemos. Se eles conseguiram fazer a música atingir todos os cantos do Planeta, nós podemos muito mais que esses 10% de raciocínio podem nos fazer acreditar.
Em suma, é impossível descrever tudo que esses quatro garotos de Liverpool, George Martin, Brian Epstein, Buddy Holy e Elvis Presley (estes últimos que influenciaram a melhor banda de todos os tempos) representam para o mundo . Não tem como exagerar a Beatlemania, porque ela em si já é um exagero, o talento é algo exagerado e colossal, a perfeição é muito além do que nossos ouvidos e pensamentos podem alcançar: Beatles é sim o que eu mais amo e sempre vou amar além de tudo.

P.S. I love you.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Frio




Eu achei que tinha perdido meu coração.
Achei que o vento o tinha levado, junto de minhas dores,
o que o tempo e os amores plantam em nós.
Me estagnei em mim mesma por um tempo,
como se o meu corpo estivesse congelado
para que minha alma pudesse ter um tempo de reflexão, de descanso.
Para que nenhum fato exterior viesse cutucar aqueles momentos de auto-conhecimento.

No entanto, passou do ponto;
o tempo me atropelou e eu não pude mais enxergar...
Meu coração, pouco a pouco, foi mesmo congelando,
Sem que eu percebesse, sem que eu pudesse remediar.
Foi tomando cada parte de mim, cada membro;
Todos congelados, estarrecidos e mudos.

Em pequenos passos, me perdi em mim mesma.
Não consegui mais segurar a ponta da corda para me salvar,
e fui, desperdiçando cada pedaço de mim...
Fui, sem volta
e sem fim.