sexta-feira, 1 de abril de 2011

Jaula de concreto



Às vezes eu tenho a impressão de que a cidade é uma grande jaula de concreto. Uma jaula enorme, com muitos caminhos e estradas, mas sem saída alguma. Cheia de pessoas cercadas por si mesmas e por suas invenções e construções. Uma jaula recheada com a pretensão dos seres humanos, com a convicção de que nossas criações superam as da natureza. Damos, quase que por caridade, um espacinho para uma árvore ou outra. Olho para todas essas homéricas construções e quero além. Mas não consigo. Esse mar de concreto é tão finito que não consigo me desvencilhar desse emaranhado de buzinas, cimento, luzes, vozes, passos e céu sem estrelas. A cidade é tão finita que faz seu próprio céu; esconde as estrelas com a fumaça que ela mesma criou. É, é uma jaula de concreto e fumaça. Não me leva além, não desperta minha essência. E, se um dia, essa jaula se destruísse, e todas as suas arquiteturas virassem pó, nada daquilo iria se refazer. A cidade não renasce, como a natureza. O tempo a desgasta e ela, então, pode até ser reconstruída, com algum esforço humano. Mas a natureza, em toda sua infinitude, precisa apenas dela própria pra renascer; um tanto de água com outro tanto de Sol. Renasce, eternamente... não se desgasta com o passar do tempo. Ela recria, amplia... Ah... Se eu pudesse achar a saída desse labirinto de concreto e ser livre na imensidão infinita. Ah, se eu pudesse...