sábado, 27 de dezembro de 2014



Sempre existe uma primeira vez - não é como dizem?
O primeiro passo, a primeira palavra, mordida, lambida no sorvete. O primeiro abraço ou o primeiro dente a cair. O primeiro beijo, o primeiro amasso... E todos esses 'primeiros' tem um gosto peculiar de magia. Como é mágica a primeira vez!
Aí então, chega um momento na vida em que, pela primeira vez, você sente vontade de beber menos, falar menos, não tem vontade de contar sobre seus rolês ou o quão divertida foi sua viagem. Pela primeira vez, essa magia se esvai. Você olha ao seu redor e nada mais parece ter aquele brilho surreal de outrora. Você passa a não aturar mais ter que agradar à todos, passa a não se importar se te acham legal ou chata. Começa a se sentir completamente fora de órbita, como se alguém dentro de você começasse a morrer. Não sabe mais onde ir, onde se encaixar... Todas as conversas parecem não ter nenhuma graça. Você se sente só. Cai na real: - Essa é minha primeira morte.
Pela primeira vez, você sente a solidão baforar em seu cangote.
Realmente, sempre achei os adultos meio solitários... Independente do tamanho da família, da quantidade de amigos ou o quanto ele fica ou não sozinho... Mas há sempre um ar de solidão, um quê de quem não tem mais os pais pra proteger e agora precisa reger a própria vida, sozinho.
E, então, eu me deparei sozinha, sem canto. Aos prantos, pensei: - Então é assim a primeira vez de um adulto.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Livre para amar... livre para amar...



Se meus pés não estão no chão, deixe-os flutuando. Deixe-os caminhar sobre nuvens, pássaros, elefantes cor-de-rosa voadores, ou naves espaciais. Deixe aqueles meus sonhos, tão cheios de cores, girar como carrossel em torno de minha mente. Deixe-a livre para amar, livre para amar, livre para amar. 
Um dia, quem sabe, um dia... volto trazendo notícias do mundo maluco. Um dia volto, sim. Mas venho trazendo um pincel mergulhado em muitíssimas cores, tão novas e vibrantes, que com uma pequena pincelada, fará reviver, finalmente, até o canto mais dorminhoco e cinza da parte de cá.

Mu-danças




A mudança é um bichinho que vem se aconchegando aos pouquinhos. Em uma noite qualquer ou não-tão-qualquer-assim, ela fica miudinha na porta do teu quarto, só observando a sua respiração debaixo do cobertor e a forma como você roça os pés um ao outro. 
No outro dia ela já está nos pés da tua cama, pensando em como se aproximar sem que você desperte do profundo sono.
Quando você menos espera, ela já está debaixo do teu cobertor, dos seus cabelos e ao lado dos seus ombros fazendo cócegas que fazem até com que acorde várias vezes à noite. 
Ela está ali e não há mais como expulsá-la. E então, quando vocês já se habituaram com a mútua presença, ela não atrapalha mais seu sono, nem te faz cócegas. Apenas está ali, confrontando as leis da física: dois seres habitando o mesmo espaço, na mesma e exata fração de segundo. De repente, você não sente mais vontade de fazer as mesmas coisas, aceitar os mesmos atos, seguir a mesma estrada já marcada de tantas idas e vindas... Simplesmente, mudou...

Ditadura da Beleza




Nunca tive coragem de conversar abertamente sobre a maldita ditadura da magreza. Sempre foi um assunto que evitava falar por mais de dez minutos. Dava uma opinião superficial e logo fazia uma piada sobre qualquer outra coisa. Fim de assunto, próxima página. Pensemos em algum regime eficaz, várias noites chorando no travesseiro e pronto. 
Hoje... Bem, hoje estou no padrão? Não! Aliás estou bem longe dele. Acima do peso, cabelos enrolados e não tão bem tratados assim, dentes nem um pouco retos, pele marcada, etc. 
A cada vez que ouvia uma piada sobre mulheres gordinhas, ou comentários sobre as magrinhas ou gostosonas: - Meu Deus do Céu! Isso é que é Mulher! - o meu coração sentia uma dor profunda. Sangrava. Sentia uma homérica decepção comigo mesma, com a minha estrutura de corpo e a minha "falta de esforço". 
E, então, surgiam as clássicas consequências que todas - sim, todas - as mulheres sofrem. Como às vezes ficar dias sem comer, e depois comer descontroladamente. Remédios ou produtos que te façam perder peso. Vomitar. Ficar feliz ao ter uma caganeira porque "pelo menos estou emagrecendo". Sempre em uma busca absurda por uma piada a menos na boca de alguém, ou por um elogio: - Como você emagreceu... Agora sim está bem mais bonita! - Meu Deus! Vocês não têm noção a dor que é se culpar por quem você é. Lamentar por ainda não ser aquilo que você ouve da boca das pessoas a todo momento: - Tão bonita fulana, tão magrinha, né? - Ou mesmo evitar o clássica: - Ciclana era tão linda, mas deu uma engordadinha. Coitada!
Sempre que uma frase dessa é emitida, a cuca de uma garota entra em colapso em algum lugar do mundo, rs. 
Porém... por esses dias algo de surreal acontece comigo. Um amor leve, fácil e muito bonito percorre em minha alma. Me olho no espelho, sorrio e me reconheço. Gosto tanto do que vejo, cada centímetro do que envolve meu espírito nesta Terra. E de repente me vem uma vontade maluca de sair gritando aos sete ventos: - Libertem-se, mulheres! Queimem essa revistas! Mandem essas pessoas calarem a boca e se reconheçam! Vocês são lindas como são!
Chega de apegos. Chega dessa vaidade tão inútil. 
Como é bom libertar a alma, o corpo, a mente... Como é bom sentir um pouquinho do gosto da liberdade. Como é bom... viver.

Aconchego pré-sono




Acho que o momento mais gostoso entre um casal não é aquele beijo cheio de saudades, o sexo da reconciliação ou aquelas cenas deliciosas de risadas enquanto preparam um jantar juntos. Todos esses momentos são, de fato, deliciosos... mas, eu só definiria como, realmente e exclusivamente extasiante, um único momento: 
Ambos muito cansados. Cada um pega o seu travesseiro, afofam-no com a mão, posicionam um do lado do outro. Deitam... alguns segundos em silêncio, com as pernas semi enroladas e um braço já adormecendo por conta da cabeça do outro encostada em cima. Os dois, então, não se beijam, mas, lentamente enquanto começam a conversar baixinho, as faces vão se aproximando como que por magnetismo. A conversa é sustentada apenas pelos corpos exaustos e as vozes cansadas, pelo sono e a bobeira que ele nos traz ou o quentinho da pele e do cobertor. Aquela conversa quase em silêncio... Até que um dos dois adormeça no meio da conversa e o outro perceba pela respiração pesada e, então, plenamente tranquilo adormece também.
Essa situação, com toda certeza, é a mais extasiante experiência que o amor nos proporciona... o aconchego pré-sono.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Pare o mundo



Não há formas de encurralar um animal livre sem, antes, dopá-lo ou tirá-lo de seu estado natural. Certas vezes, ele tem crises violentas, fere pessoas e, consequentemente, vai morrendo também um pouco de sua essência, a cada centímetro da jaula que diminui.
Ser um animal preso faz de mim uma alma que não quer mais se libertar, fugir da jaula, desfrutar o mundo... mas sim deixar de existir. Na jaula, fora dela, na vida... Simples e puramente, parar e descer.

quinta-feira, 13 de março de 2014

Ser ou não Ser... Elas!



Sabe-se lá quando me desprendi de Mim para tentar ser Elas. Talvez, quando Elas passaram a fazer mais parte das construções dos sonhos. Dos meus sonhos? Nem sempre. Mais precisamente, do sonho coletivo. Quando Elas entraram pelas portas principais dos desejos, ilusões e paixões.
Neste momento em que abri as janelas da "realidade", abri os olhos e eles estavam embaçados. A partir de então, nunca mais foram os mesmos. Meu dedo pálido e trêmulo apontou para a direção. Eu digo, A Direção. E se manteve, ali, apontando, tentando alcançar, ao menos, com a ponta dos dedos o que era Delas.
O dedo, ainda apontado, afastava-se. E quanto mais apontava, mais distante se tornava a realidade. Ou a ilusão. Ou ambos. Ah! Todas elas já se confundem em mim. Já me embaralharam como cartas em um jogo e as definições... Bem, as definições já não definem mais.
Sabe-se lá quando foi.
Sabe-se lá quando vai.
Sabe-se lá quando essa realidade ilusório - ou ilusão real - sairá e desistirá de massacrar minha cabeça.
Não quero mais ser Elas. Mas como parar de querer quando vivemos com todos querendo por nós?

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Ela não é



Rodeada de amigos, de danças, de canções com seu nome, amores, amados, transados, na rua, na Augusta. O telefone toca de terça à domingo. Nem atende mais. A campainha toca. Um, dois, três, dez baseados. Cervejas gelando. Todos os dentes se mostram para ela. Ela é. Ela foi. Ela não é mais. Nada é. Nada mais é para ela. Sem amigos, danças, canções, sem nomes, amados, amores ou Augusta. Sem toques, baseados ou dentes. Ela olha para o lado. Chora. Não é mais.