sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Ditadura da Beleza




Nunca tive coragem de conversar abertamente sobre a maldita ditadura da magreza. Sempre foi um assunto que evitava falar por mais de dez minutos. Dava uma opinião superficial e logo fazia uma piada sobre qualquer outra coisa. Fim de assunto, próxima página. Pensemos em algum regime eficaz, várias noites chorando no travesseiro e pronto. 
Hoje... Bem, hoje estou no padrão? Não! Aliás estou bem longe dele. Acima do peso, cabelos enrolados e não tão bem tratados assim, dentes nem um pouco retos, pele marcada, etc. 
A cada vez que ouvia uma piada sobre mulheres gordinhas, ou comentários sobre as magrinhas ou gostosonas: - Meu Deus do Céu! Isso é que é Mulher! - o meu coração sentia uma dor profunda. Sangrava. Sentia uma homérica decepção comigo mesma, com a minha estrutura de corpo e a minha "falta de esforço". 
E, então, surgiam as clássicas consequências que todas - sim, todas - as mulheres sofrem. Como às vezes ficar dias sem comer, e depois comer descontroladamente. Remédios ou produtos que te façam perder peso. Vomitar. Ficar feliz ao ter uma caganeira porque "pelo menos estou emagrecendo". Sempre em uma busca absurda por uma piada a menos na boca de alguém, ou por um elogio: - Como você emagreceu... Agora sim está bem mais bonita! - Meu Deus! Vocês não têm noção a dor que é se culpar por quem você é. Lamentar por ainda não ser aquilo que você ouve da boca das pessoas a todo momento: - Tão bonita fulana, tão magrinha, né? - Ou mesmo evitar o clássica: - Ciclana era tão linda, mas deu uma engordadinha. Coitada!
Sempre que uma frase dessa é emitida, a cuca de uma garota entra em colapso em algum lugar do mundo, rs. 
Porém... por esses dias algo de surreal acontece comigo. Um amor leve, fácil e muito bonito percorre em minha alma. Me olho no espelho, sorrio e me reconheço. Gosto tanto do que vejo, cada centímetro do que envolve meu espírito nesta Terra. E de repente me vem uma vontade maluca de sair gritando aos sete ventos: - Libertem-se, mulheres! Queimem essa revistas! Mandem essas pessoas calarem a boca e se reconheçam! Vocês são lindas como são!
Chega de apegos. Chega dessa vaidade tão inútil. 
Como é bom libertar a alma, o corpo, a mente... Como é bom sentir um pouquinho do gosto da liberdade. Como é bom... viver.

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