George Losh era um inglês muito comprido e afinado. Os olhos pareciam transbordar ferragens pontiagudas de aspereza e rudez e, quando sorria, o fazia de canto e chegava a ser, até mesmo, contidamente irritante. Conheci-o quando fui à casa da Srta. Smornny, costureira antiga do nosso bairro em Liverton, a procura de uma emenda em meu vestido plissado que, por ventura, rasgara-se no atrito com um prego. Entreguei meu vestido à costureira e, em uma passagem rápida de olho em torna da sala, avistei aquela quase-sombra em forma material a minha frente. George estava sentado com uma postura de tábua e esperava ansioso que a velha costureira lhe entregasse a calça desbotada recente remendada. Não pude decifrar de pronto o que me atraiu naquela estátua em forma de homem. Entretanto, ambos olhávamo-nos furiosamente conectados e, a gentil Srta. Smornny, apresentou-nos...
- Louise...
- George Losh...
Surpreendente como até seu nome irritou-me de tal forma que seria inútil tentar explicar a causa. Em um gentil gesto preocupado, Srta. Smornny ofereceu que George acompanhace-me à minha casa. Fomos... sem trocar palavra alguma além da apresentação. Seus passos eram endurecidos, frios e, sem dúvidas, a presença de George me incomodava. Não obstante, chegando ao portão ele beijou-me - não pergunte-me a razão - sem doçura... molhado demais, caprichado de menos e tão gelado quanto a temperatura de suas mãos que tocavam minha nuca arrepiada de repudia.
Adentrei ao meu refúgio e por ali fiquei, sentindo aquele primeiro beijo tão horripilante e atraente.
Conforme os dias atropelavam-se com as turbulências da Segunda Guerra Mundial, minha freqüência ao lado de fora de minha casa era menor. Sem poder desfrutar ao ar livre de minha juventude, meus olhos fixavam-se aos vidros da janela e, minha única atração, era a imagem nublada daquele homem a contemplar meu rosto através dos vidros. Sim... desde o dia do beijo, ele não saiu dali. Conforme se passavam os meses, aquilo fragmentava-se a uma doença compulsiva e tenebrosa.
Casei-me com George, pois não havia mais com quem me casar. Vivi com George, pois não havia mais com quem viver. Gradativamente, o meu ódio condensava-se e, depois de consideráveis anos ao seu lado, não suportei a sina perturbadora de compartilhar uma vida com ele. Ensandecida, minha mente teve a inexorável certeza prazerosa de um ato quase aliviante... enquanto adormecia, então, apanhei o canivete que guardava-mos na escrivaninha, com minhas mãos cerradas iguais ao olhos borbulhantes e quentes, enterreio-o, primeiramente, naqueles olhos ásperos que me gelavam a alma... em seqüência a língua endurecida que melava a minha com o beijo estranho que arrancava de minha quase virgem boca... a cada parte que usurpia de seu corpo, remetia-me a lembranças de George em minha vida murcha.
Envolvi cada pedaço de meu marido com as espumas fofas do interior do colchão. Seus olhos, porém, mergulham no vidro amarelado ao lado de minha cama. Aqueles mesmos olhos transbordando ferragens pontiagudas continuam, impressionantemente, com a mesma expressão. No entanto, irão continuar me olhando até eu deteriorar também.
George Losh ainda me olha, pois nesta velha e fria Inglaterra, não há mais quem me olhar... além de George Losh, não há mais...
...
- Louise...
- George Losh...
Surpreendente como até seu nome irritou-me de tal forma que seria inútil tentar explicar a causa. Em um gentil gesto preocupado, Srta. Smornny ofereceu que George acompanhace-me à minha casa. Fomos... sem trocar palavra alguma além da apresentação. Seus passos eram endurecidos, frios e, sem dúvidas, a presença de George me incomodava. Não obstante, chegando ao portão ele beijou-me - não pergunte-me a razão - sem doçura... molhado demais, caprichado de menos e tão gelado quanto a temperatura de suas mãos que tocavam minha nuca arrepiada de repudia.
Adentrei ao meu refúgio e por ali fiquei, sentindo aquele primeiro beijo tão horripilante e atraente.
Conforme os dias atropelavam-se com as turbulências da Segunda Guerra Mundial, minha freqüência ao lado de fora de minha casa era menor. Sem poder desfrutar ao ar livre de minha juventude, meus olhos fixavam-se aos vidros da janela e, minha única atração, era a imagem nublada daquele homem a contemplar meu rosto através dos vidros. Sim... desde o dia do beijo, ele não saiu dali. Conforme se passavam os meses, aquilo fragmentava-se a uma doença compulsiva e tenebrosa.
Casei-me com George, pois não havia mais com quem me casar. Vivi com George, pois não havia mais com quem viver. Gradativamente, o meu ódio condensava-se e, depois de consideráveis anos ao seu lado, não suportei a sina perturbadora de compartilhar uma vida com ele. Ensandecida, minha mente teve a inexorável certeza prazerosa de um ato quase aliviante... enquanto adormecia, então, apanhei o canivete que guardava-mos na escrivaninha, com minhas mãos cerradas iguais ao olhos borbulhantes e quentes, enterreio-o, primeiramente, naqueles olhos ásperos que me gelavam a alma... em seqüência a língua endurecida que melava a minha com o beijo estranho que arrancava de minha quase virgem boca... a cada parte que usurpia de seu corpo, remetia-me a lembranças de George em minha vida murcha.
Envolvi cada pedaço de meu marido com as espumas fofas do interior do colchão. Seus olhos, porém, mergulham no vidro amarelado ao lado de minha cama. Aqueles mesmos olhos transbordando ferragens pontiagudas continuam, impressionantemente, com a mesma expressão. No entanto, irão continuar me olhando até eu deteriorar também.
George Losh ainda me olha, pois nesta velha e fria Inglaterra, não há mais quem me olhar... além de George Losh, não há mais...
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