
Dói.
Mas, logo passa.
Os ouvidos de Carmira aceitaram as suadas palavras que exalavam daquela face obesa a lhe dizer. Quase sem interesse, os fragmentos de palavras reclamavam nos atordoados ouvidos de Carmira.
Sem graça, nem brilho, bailavam seus pés grandes e envoltos pelas tiras de couro envelhecido. Balbuciando a si os próprios pensamentos, fixava sua dor anavalhada nas labaredas quentes da fogueira que abafavam sua face, a qual sentava bem à frente.
Dói.
Mas, logo passa... eram as únicas palavras que navegavam perante seus olhos quase negros, quase largos e quase sonsos.
Percorreu-lhe, de repente, a farta inconsciência, remetendo-a à realidade. Mergulhada nas profundidades de seus próprios olhos de lagoa escurecida, sentiu o grande trovejar revelador inebriante de seu peito esmagado pelo amor. Claro, havia de ser amor que deixara assim a tristonha Carmira. Ergueu, assim, os braços roliços e fixou toda a sua dor nesta fuga, analisando um ponto fixamente entediante, percebeu ali migalhas sujas de restos da fogueira, migalhas pretas...intensamente pretas. Como um súbito susto, Carmira enxergou sua intensidade de inércia, era mais forte do que a daquela migalha. A migalha ao menos permitia-se ser levada pelo sopro do vento...
A imensidão vermelha pulsando em seu peito, então, sangrava ainda mais, e o inexorável ardido lhe rasgava o peito, o qual gradativamente junto à dor, endurecia e se encavalava feito placas tectônicas, feito uma vida despencada em migalhas restantes de amores... amores balbuciados, é claro.
...
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